Receitas para uma negociação de sucesso com Sindicatos

Publicado em: 29/10/2009

Historicamente, os meses de setembro e outubro são aqueles nos quais se concentram as negociações relacionadas a aumentos salariais. São nesses meses que categorias como a dos Metalúrgicos e a dos Bancários negociam seus acordos e convenções coletivas, onde estão determinados, entre outros, o reajuste e o piso salarial dos colaboradores.


Via de regra, as negociações coletivas ocorrem diretamente entre os Sindicatos Patronais e as Federações ou Centrais Sindicais dos Trabalhadores, vez que referidos entes compreendem uma maior gama de filiados e, com isto, são dotados de grande representatividade o que resulta em um maior poder de negociação.


Por tal situação é fato notório que muitos sindicatos são arredios a negociações diretas com as empresas, por entenderem que “a união faz a força” e que quanto maior a base de trabalhadores envolvidos em um pleito de negociação, maiores são as chances de êxito e de benefício maior para toda a categoria. Todavia vem se notando uma modificação neste modo de pensar, tendo os Sindicatos locais cada vez mais buscado contato sem intermediação com as empresas de sua base sindical.


Desta forma, as empresas devem se preparar para efetuar referidas negociações visando, primeiramente, a um maior estreitamento de relações junto ao Sindicato Laboral e, consequentemente, a maiores benefícios para ambas as partes, já que estas seriam sabedoras das necessidades e das possibilidades da outra parte da mesa de negociação.


Neste ponto é necessário se frisar o modelo negocial do ganha-ganha onde, através de comunicação eficaz e o bom relacionamento entre as partes ocorre a descoberta do interesse mútuo que resultará na elaboração de uma gama de acordos possíveis visando-se ao convencimento de que a outra parte está sendo tratada com justiça para, por fim, ocorrer a definição sobre as alternativas para o acordo e chegada ao compromisso firmado.


A essência do referido modelo é, como nota-se acima, uma comunicação efetiva e eficaz junto ao órgão de classe, sendo que esta comunicação deve ser definida como a capacidade do proponente de analisar friamente se as mensagens entendidas pelo receptor têm o sentido pretendido e mais, mede-se a eficácia da comunicação, principalmente, na capacidade de o proponente receber de volta a informação ofertada.


Conjuntamente com a boa comunicação, se faz essencial para o sucesso negocial o bom relacionamento. Em especial nas relações sindicais as negociações ocorrem com pessoas com quem já negociamos antes e negociaremos novamente. Em geral, um bom relacionamento de trabalho dá poder às partes para negociarem bem as suas diferenças, pois toda transação deve melhorar a capacidade de trabalharem juntas novamente.


Uma vez nutrido o bom relacionamento sindical e efetivada a comunicação, torna-se consequente a descoberta por parte do ofertante do real interesse da outra parte, ponto crucial a ser atingido na negociação e que revelará o sucesso da mesma. Assim, quando uma das partes pensa somente no que ela quer, possivelmente os interesses da outra parte não serão atendidos e esta não se verá incitada a chegar ao ajuste. Pensar nos interesses da outra parte coopera para que os dois lados atinjam um senso comum satisfatório.


Superada a etapa da proposta e acordados os fatores da negociação é necessário se criar na outra parte o convencimento de justiça no seu tratamento, isto para que em futuros encontros e rodadas de negociação não se tenha quebrado o bom relacionamento e o canal de comunicação. Este senso de justiça pode ser atingido através da apresentação de alternativas ao acordo apresentado, visto que um acordo quase nunca abrange todas as situações factíveis, ou seja, os problemas cotidianos muitas vezes ficam insertos nas lacunas não convencionadas, que poderão ser dirimidas por alternativas apresentadas no próprio acordo coletivo.


Por fim, mas não menos importante, é sempre necessário, em uma negociação sindical, se ter em mente que o Sindicato Laboral não deve ser tratado como o inimigo que apenas quer aumentar o salário ou conseguir mais benefícios para seus filiados, mas sim, como uma entidade que pode indicar formas de melhoria nas condições de trabalho e na produtividade que, futuramente, se reverterão em maior rentabilidade para a empresa que souber se aproveitar de um bom relacionamento com a entidade de classe.



João Junqueira Marques

Advogado

Raquel Biasotto Teixeira

Assistente Jurídica

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